O ULTIMO TANGO
O ultimo tango em Paris (Bernardo Bertolucci), um filme muito mais poético que erótico, que discursa abertamente sobre a intimidade do ser humano, é lembrado mais uma vez pela partida da sua protagonista Maria Schneider, desconhecida na época, com apenas 19 anos que conheceu o sucesso mundial do dia pra noite.
Segundo consta, a ideia do filme apareceu a partir de uma fantasia de Bertolucci, que um dia viu uma linda mulher desconhecida nas ruas e imaginou toda uma história com ela.
Só que o filme não é apenas isso. Apesar de ser lembrado principalmente pela “cena da manteiga”, isso é o menos importante. Busca desvendar conflitos e segredos que a sociedade insiste em esconder. Como numa das falas de Marlon Brando, justamente naquela famosa cena: “Sagrada família…Diga! As crianças são torturadas até mentirem. A vontade é esmagada pela repressão. A liberdade é assassinada pelo egoísmo…”
Apesar do imensurável sucesso do filme, Maria Schneider se arrependia e culpava Bertolucci por esse trabalho. Depois de “O ultimo tango”, ela não conseguiu mais um sucesso a altura e se entregou ás drogas e ao desespero. Sua vida pessoal e artística foi marcada por escândalos e decadência.
Poderia ser feito um filme sobre o filme, uma vez que a polemica e os casos acontecidos durante e depois das filmagens dariam um grande roteiro.
No seu lançamento, a revista New Yorker considerou o mais importante filme da década “mudando a face de uma forma de arte, um filme que as pessoas esperam desde que filmes existem…” Porem o Village Voice descreveu passeatas de comitês de moralidade na porta do cinema.
Na França o Le journal de Dimanche, classificou como “um dos maiores filmes da história” e as pessoas aguardavam em fila durante duas horas no seu primeiro mês de exibição.
No Chile, o filme ficou interditado por 30 anos.
No Brasil, só pode ser exibido no Brasil em 1979 (sete anos depois) por causa da ditadura
Na Itália o filme foi lançado, mas uma semana depois a policia confiscou todas as suas cópias, por ordem da Justiça e processou Bertolucci por obscenidade. Depois disso, a Suprema Corte Italiana ordenou que todas as cópias fossem destruídas e condenou Bertolucci a quatro meses de prisão e seus direitos civis e políticos cassados por cinco anos.
A trilha sonora do compositor argentino Gato Barbieri, ganhou um Grammy pela trilha. Depois disso ele assinou com uma grande gravadora e lançou uma série de lançamentos pop/jazz de gosto duvidoso, permanecendo inativo pelo resto da década. Nunca mais foi o mesmo.
Marlon Brando, apesar de ter sido indicado ao Oscar como melhor ator e Bertolucci, como melhor diretor, declarou que jamais faria um filme desses de novo e cortou relações com Bertolucci.
Maria Schneider morreu em Paris, com 58 anos, triste e decepcionada, vítima de câncer, quarta feira passada. A maior referencia dela é ironicamente, justamente o filme que ela se arrependeu de ter feito.
3 comentários
Isolda, mas que fado o desse filme, hem? Não são raras as vezes em que a gente vê a arte sendo submetida pela hipocrisia que sempre está a serviço de forças ocultas. Esse, a meu ver, foi o caso d’O Último Tango. Os contrários só se esqueceram dum detalhe: a arte é eterna. Se aguarde a reinvasão do filme na mídia em breve… bjs
Pois é, Balestra, concordo com vc. Porem e infelizmente, acho que as novas gerações só vão se interessar por esse filme por causa da tal cena da manteiga. Mas é o tipo do filme que talvez os bastidores sejam ainda mais interessantes que o próprio filme. Bjs
Isolda, procurei pelo blog o seu e-mail e não encontrei. Então, resolvi lhe enviar este comnt. Conhecia o seu trabalho “de longe” daí acontecimentos cabaram me levando a escutar Milton Carlos e entender um pouco a figura musical dele e por tabela a sua, é inevitável a ligação. Posso te dizer que depois desse conhecimento, um novo mundo se abriu para mim, pois, sou do tipo que sinto as palavras e a sua respectiva origem. Hoje tenho 26 anos e escuto muita música, de tudo que é bom um pouco(os chicos, science e buarque, marcelo camelo, los hermanos, muita música latina de origem, muitas coisas do meu estado e da minha cidade, Recife. Acabei chegando a vocês por um CD antigo da coletânea “acervo” de M. Carlos que é da minha mãe há dois anos o ouvi e me encantei com o coração presente nas músicas, muito fora do normal, viceral, meio alegria desvairada, meio tristeza sem fim. Aos poucos fui viajando em suas obras, principalmente nas letras e hoje estou aqui agradeço de coração a sua existência e a do saudoso Milton, hoje estou mais tranquilo e feliz em perceber que alguem fez sucesso escrevendo as palavras que eu quis dizer. Muito Obrigado!
Sem compromisso escrevo e seria uma honra uma visita sua a meu recanto literário.
http://recantodasletras.uol.com.br/autor.php?id=33635
Fábio Lins
fabiolins9@yahoo.com.br