SÓ MAIS UMA PEÇA

SÓ MAIS UMA PEÇA

… É como uma peça de teatro com dramas, tragédias e comédias e nunca sabemos quando um ator do nosso grupo vai deixar o espetáculo. E ele sai por inúmeras razões; foi contratado para outra peça (contrato irrecusável) seu contrato com nosso elenco acabou, não se identificou com o papel, enfim; ele sai. Mas às vezes também ele vai embora sem motivo aparente – um acidente, um engano…
 
Hoje é aniversário de alguém que estava fazendo um dos papéis mais importantes na minha peça- vida. E eu não tenho a menor ideia de onde ele esteja. Talvez esteja fazendo outra peça aqui perto e eu não o reconheça (eles sempre mudam o look), talvez tenha tirado férias, talvez esteja em algum lugar e acompanhando de longe o meu trabalho…
 
Só sei que ele faz muita falta. Será que ele sabe o quanto?
Será que contaram pra ele que mamãe está partindo lentamente, sofrendo a cada dia mais, ocupando o mesmo quarto que era dele, que era nosso. No mesmo lugar onde vivemos nossa adolescência, fizemos tantas canções, rimos, cantamos, conhecemos tantos sucessos?
Será que ele acompanhou a continuação da nossa história? A promessa que fiz e cumprí? Os capítulos em sequencia?
 
Não importa mais se ele sabe ou não, talvez fosse melhor que nem soubesse. O mundo não é mais o mesmo, de quando viajávamos por esse Brasil afora em festivais de música e as rádios tocavam as canções que o publico pedia. Não é mais aquele, em que saíamos na madrugada de Sampa, sem jamais pensar em assaltos ou outro tipo de violência e íamos parar no Guarujá só pra tomar um sorvete. -Desculpas nossas, pra trocar confidencias e conselhos durante o trajeto e “só pra variar”, tudo acabava em musica -.
 
Não, ele não sabia que “novos golpes” surgiriam . Na época nenhum de nós iria acreditar. “Coisa de filme”, diria ele. Éramos romanticos demais para crer, que na vida real existiam pessoas capazes de abusar, de uma ingenuidade assim.
 
Hoje é seu aniversário, mas seus amigos não virão aqui, não tem bolo nem festa, nem jantares.
Só nossas canções invadem a casa, bem baixinho, pra não acordar os fantasmas, ciumentos dessa saudade que eu gosto de ter.
Até que as cortinas se fechem, as luzes se apaguem e eu também abandone essa peça.

Um comentário

  1. Cris Mattar disse:

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